
Sala Redenção no Dia da Cultura 2021
A Sala Redenção busca sempre em sua programação aproximar clássicos conhecidos e desconhecidos do cinema mundial, com as pequenas produções independentes que surgem ao nosso redor. Esse olhar amplo nos permite observar as diferentes formas de como o cinema se manifesta, seus desdobramentos em novas formas de linguagem e narrativa. Maneiras cada vez mais amplas de nos relacionarmos com a imagem. Para o primeiro Dia da Cultura totalmente online da Difusão Cultural, a Sala Redenção se uniu ao Festivau de C4nn3$, com a proposta de trazer essas novas linguagens para o espaço de debate e reflexão.
Com um nome que faz referência ao consagrado festival francês de Cannes, evento que contribui para o prestígio de obras do mundo todo, fortalecendo tendências hegemônicas no cinema. O Festivau de C4nn3$ é uma subversão disso, não apenas no nome, mas no seu formato e na sua proposta de propagar experimentos audiovisuais de alunos e alunas da UFRGS dentro do espaço da universidade, para romper justamente com o olhar hegemônico que assombra as produções independentes. C4nn3$ nasceu no Instituto de Artes, mas já cresceu para além dele, abrangendo as mais diversas criações de jovens artistas do Brasil todo.
A importância da quebra com as convenções dentro do cinema é uma busca que a Sala Redenção vem fazendo nos últimos anos. Em 2020, ano de política genocida frente à calamidade pública do vírus e de intervenções ideológicas de extremo retrocesso em espaços de criação acadêmica e artística, foi preciso explorar novos caminhos para a programação do Cinema Universitário, remapeando e cartografando o espaço virtual, através de curadorias colaborativas e lives repletas de ruídos necessários para a discussão e a formação de novas formas de observar essas mudanças criticamente. A virtualidade desse Dia da Cultura possibilita, junto com o Festivau de C4nn3$, colocar esses jovens artistas lado a lado com outras produções tão diversas que afloram no meio cultural gaúcho. Agigantando essa rede, para que vídeos de baixa resolução, telas verticais, corpos livres e delírios enigmáticos ocupem a tela do seu computador e deixem lá ao menos uma pulga atrás da orelha de quem assiste. Fugindo de pensamentos simplificadores. A simplificação dá espaço para o esvaziamento.
Para encerrar o percurso, é preciso lembrar também que o mundo real é insubstituível, pelo menos como contraponto concreto ao imaginário. É o contato com o mundo que permite modificá-lo e povoá-lo com novas perspectivas. Se a incerteza e a paranoia já existiam nesses espaços, por conta do governo violento que estamos passando, os tempos pandêmicos reforçaram tudo isso e acrescentaram o medo da contaminação. O longa-metragem gaúcho ‘A Última Estrada da Praia’ (2010), que fecha a programação do Cinema, é uma viagem de transição e transformação por um mundo que vai se revelando através do deslocamento. O longa de Fabiano de Souza nos leva até o litoral do Estado e permite encontrar pessoas desconhecidas, tocar seus corpos, trocar ideias, discutir e, além de tudo, entrar mais uma vez na Sala Redenção. Reencontros e descobertas na programação do Dia da Cultura 2021.
Texto: Victor Souza, bolsista da sala redenção.